Somos seres sociais. E isto já vem de tempos bem longínquos, onde tínhamos, obrigatoriamente, de viver em comunidade, porque a única alternativa seria morrer. E essa experiência (posso chamá-la traumática?) meio que se agrafou ao nosso cérebro humano e criou o chamado medo da rejeição social, do qual sou uma vítima. Somos todos, sim, mas em diferentes medidas. No meu caso, é crítico.
Passo a explicar, com um exemplo muito concreto. Já me aconteceu, muitas vezes, assumir que gosto de alguma coisa (um artista, uma música, um livro) e, assim que ouço alguém dizer precisamente o contrário, entro num conflito interno com a minha consciência e questiono se de facto aquela coisa é algo que valha a pena. Como se tudo aquilo que eu penso ou sinto sobre algo perdesse a importância e, até, o valor sentimental associado, em detrimento do que os outros dizem ou acham sobre o assunto. Chamei a isto duvidar das minhas opiniões, um verdadeiro flagelo na minha vida.
É que para gostar de coisas, é preciso criar uma certa afetividade com elas e eu sou essa pessoa que trata as coisas que ama como pessoas: deixo-as entrar em minha casa, faço um chá quente antes de dormir e até dou o pequeno almoço. E sim, continuo a falar sobre música e livros e afins. Ou tenho mesmo muitas certezas em relação àquilo de que gosto (mas quando é que as tenho, na verdade?), ou então sinto que vai tudo por água abaixo numa questão de segundos.
Sabem quando não param de ouvir uma música ou um disco durante semanas e de repente vem alguém e diz “hum, não suporto essa cantora”? Eu, se tiver essas pessoas em conta ou se gostar muito delas, vou ficar a pensar duas vezes se de facto a minha opinião sobre tal tema vale alguma coisa. Já me aconteceu em coisas muito específicas: com uma série que vi e da qual gostei, mas que uma amiga não conseguiu ver nem três episódios; com um concerto que vi, de uma artista que adoro e no qual me emocionei muito, mas que outra amiga não apreciou nada, nem o concerto, nem a artista. Importa dizer que tem de existir uma percentagem de mim que acha que aquela pessoa vai achar o mesmo que eu. Isso é determinante para o que vem depois.
Eu sei que as pessoas não fazem isto com maldade, apenas estão a expressar a sua opinião sobre determinado tema e nunca senti sequer laivos de superioridade na forma como o fazem. Afinal, são mesmo minhas amigas e acho que nunca me questionaria tanto sobre as minhas opiniões se essas pessoas fossem completas estranhas. Mas, para mim, isto funciona quase como uma invalidação daquilo que sinto e aparece logo uma borracha automática na minha consciência a dizer: ah, fulana disse que aquilo não é bom, então mais vale apagares isso da tua cabeça e seguires em frente, porque se calhar estás a perder o teu tempo.
Como é que é suposto proceder, então? Não posso (ou devo) só continuar a gostar das coisas como gostava anteriormente? É óbvio que sim, o meu lado racional sabe muito bem disso. No entanto, o outro lado nem sempre quer colaborar. Geralmente, fica só um nó na garganta de cada vez que volto a ouvir as músicas ou a ver as séries e penso naquela opinião que me fez pensar que se calhar o que eu penso não vale assim tanto e tudo isto porque eu penso demais sobre tudo e dou uma importância danada ao que os outros pensam sobre o que eu penso. Mas como é que se pára esta linha de pensamentos?